quarta-feira, 21 de agosto de 2013

"Eu via todo o ambiente no qual, em espírito, se envolvia; roupas, lençóis, móveis: eu lhe dava força, uma outra figura. Via tudo o que tocava, como se tivesse querido criar cada coisa por ele mesmo. Quando me parecia com o espírito inerte, eu o seguia em ações estranhas e complicadas, longe, boas ou más: estava segura de nunca entrar em seu mundo. Ao lado de seu querido corpo adormecido, quantas horas noturnas de vigília, me perguntando por que ele queria tanto se evadir da realidade. Nenhum homem teve igual propósito. Reconhecia - sem temer por ele - que podia constituir um sério perigo em sociedade. - Possui talvez segredos para mudar a vida? Não, não faz mais que os buscar, me replicava. Enfim sua caridade é encantada, e dela sou a prisioneira. Nenhuma outra alma teria tanta força - força de desespero! - para suportá-la - para ser protegida e amada por ele...
Eu estava em sua alma como num palácio que se esvaziou para não ver uma pessoa tão pouco nobre como vós, eis tudo. Ai! Eu dependia muito dele. Mas o que ele queria com a minha existência tenra e frouxa? Ele não me tornava melhor, se não me fazia morrer!"


Arthur Rimbaud, Uma Temporada no Inferno.