domingo, 17 de novembro de 2013

Qualquer um reconhece os doentes dessa doença. Fundas olheiras delatam que jamais dormimos, e padecemos febres devastadoras e sentimos uma irresistível necessidade de dizer estupidezes. Não consigo dormir. Tenho uma mulher atravessada entre as minhas pálpebras. Se pudesse, diria a ela que fosse embora; mas tenho uma mulher atravessada na minha garganta. Eu adormeço às margens dessa mulher: eu adormeço às margens de um abismo. Arranque-me, senhora, as roupas e as dúvidas: dispa-me, dispa-me. 

- Eduardo Galeano, O livro dos abraços.

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